"«Encerra n'uma aldeia o teu destino, poeta;
N'aldeia a f'licidade é virginal, completa.
Onde a alma conserva a eterna mocidade,
A fina flor da luz da sensibilidade,
Onde a boca não mente e o coração não chora,
Onde a água é mais pura e mais vermelha a aurora,
Aonde a gente encontra aquilo que eu mais amo,
- Ninhos em cada peito e aves em cada ramo,
Aí, poeta, aí é que é viver tranquilo!
Hás de encontrar n'aldeia um perfumado asilo.
Canta a boa inocência, as rosas, as searas,
Os mansos animais, as vivas cores claras,
A abundância, a alegria, o vinho, a formosura,
E os beijos sensuais e a húmida candura
Do transparente olhar da tua linda amante!
O poeta é como o aroma: o aroma inebriante
Enche o mar, enche a terra, enche o céu, enche tudo,
E cabe, santo Deus! no leito de veludo,
Nos rubros corações das pequeninas flores!»
- Não costumam dormir nas rosas os condores."
Guerra Junqueiro, A Morte de D. João, 10.ª ed., Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1921, pp. 16-17.
No comments:
Post a Comment