Tuesday, October 26, 2021

AGONIA E ÊXTASE

 



"A desesperante calma da divindade que, da sua inacessível altura deixa cair um sorriso de profunda e glacial apatia sobre os sofrimentos a que não traz qualquer libertação, faz ver que a humanidade mais cedo deixará de ser do que de sofrer. Aquele que tem necessidade de consolo volta-se, então, para a natureza, cuja incessante agitação parece corresponder às vicissitudes do destino humano e às emoções dos humanos corações, cujas alternâncias de tempestade e calma, de nuvens e de céu limpo, de terrores e de alegria, misteriosamente parecem responder às inefáveis harmonias desse instrumento, condenado a vibrar alternativamente entre a agonia e o êxtase, até que a mão da morte venha tanger as suas cordas e, assim, conquistar um perpétuo silêncio."

Charles Maturin, Melmoth, o Viandante, vol. III, trad. Jorge Silva Melo, Lisboa: Editorial Estampa, 1974, pp. 144-145. 

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