Wednesday, October 27, 2021

EROS-THANATOS



" - Eu amo - disse para si Isidora.
- Amar - continuou Melmoth - é viver uma existência repleta de contradições perpétuas; sentir que a ausência é insuportável; sofrer quase tanto na presença do objecto amado; ser tomado de mil pensamentos quando se está longe dele; imaginar a felicidade que se experimentará quando, ao vê-lo, lhos comunicarmos; e quando o momento do encontro chega, sentir-se, por uma timidez igualmente opressiva e insuportável, a incapacidade de exprimir um só que seja desses pensamentos; ser eloquente na sua ausência e mudo na sua presença; esperar o momento do seu regresso como a aurora de uma nova existência; e quando ele chega ficar privado de repente desses meios a que ele devia trazer como o viajante do deserto espia o nascer do sol - peso esmagador dos seus raios, e quase lamentar que a noite tenha acabado."

Charles Maturin, Melmoth, o Viandante, vol. III, trad. Jorge Silva Melo, Lisboa: Editorial Estampa, 1974, pp. 170-171.  

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