Tuesday, January 4, 2022

LIBERTAR-SE

 


"Queria libertar-se para correr atrás do ser fugitivo, mas é subitamente impedido por algo que o paralisa ainda mais que as cordas e as correntes. É o amor, o amor das almas, ao pé do qual o amor dos homens é apenas um pálido reflexo, e que novamente, tal como no leito de morte de Edite, o subjuga. Este amor penetrou-o lentamente, como um fogo recém-acendido penetra lentamente na madeira. Nada se sabe da sua obra; lança, de quando em quando, uma faísca que prova que não está morto. É uma pequena faísca deste género que acaba de se acender nele. Não brilha ainda com toda a intensidade, mas a sua luz é já suficiente para lhe mostrar a bem-amada tão bela que ele se curva, receoso, sentindo que não ousa, não quer aproximar-se dela, que não o suportaria..."

Selma Lagerlöf, O Cocheiro da Morte, trad. Maria de Fátima Lourenço Godinho, Lisboa: Editorial Estampa, 1975, pp. 78-79. 

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