"Tommaso continuava a trazer os seus trabalhos e o Mestre corrigia-os.
- Não tenha medo da nudez. Deus criou-nos nus, pois deu-nos uma forma perfeita. A nudez é beleza. A nudez é a verdade da arte. Havia um pintor de madonas doces, tinha um mestre mau, Perugino, e tinha medo de descobrir até um bocado do corpo humano como se a arte tivesse vergonha da nudez... Aquilo que o senhor disse, que esse pintor dava prioridade às cores, resulta do seu medo da nudez. O desenho descobre, a cor encobre... Por isso prefiro a escultura. O melhor para pintar é o fresco, é uma pintura forte, imensa, capaz de abranger tudo. Imensa em si mesma porque a pequenez multiplicada várias vezes é sempre pequenez. É impossível abranger tudo num material duro. Esse é o drama do escultor. Tinha razão Leonardo da Vinci ao dizer que um material é tanto mais ideal quanto mais macio. E a coisa mais ideal é a palavra. Só Dante conseguiu abranger tudo. Dante desceu do Céu e vivo atravessou o Inferno. Cada artista deve trazê-lo no coração. A decadência inicia-se quando um artista o perde. Em Dante pode imergir-se como na imortalidade. Sob a sombra do seu génio abre-se uma perspectiva ilimitada e infinita da perfeição. Uma obra, mesmo a mais perfeita, é um degrau para uma perfeição ainda maior. O vagabundo que se encontra no cimo duma montanha vê daí o cume de outra montanha ainda mais alta."
Julian Stryjkowski, Tommaso del Cavaliere, trad. de Zbigniew Wódkowski, Lisboa: Cotovia, 1990, p. 19.
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