"Só tinha feito uma pergunta pessoal ao jovem índio:
- Por que sou a única vestida com roupa azul?
- É a cor do vento. É a cor que foge, que nunca volta mas está sempre entre nós, e nos espera como a morte. É a cor do que está morto. E é a cor que se mantém distante, a olhar-nos de longe sem poder aproximar-se. Quando nos aproximamos dela, afasta-se. Não se pode estar perto. Todos somos castanhos, e amarelos, e com cabelo preto, e dentes brancos, e sangue vermelho. Mas somos os únicos que aqui estamos. Os teus olhos azuis são mensageiros do que está longe, não podem ficar aqui, e chegou o tempo de regressares.
- Para onde? - perguntou ela.
- Para as coisas distantes como o sol e a mãe azul da chuva, para lhes dizeres que somos outra vez o povo do mundo e podemos trazer de novo o sol até à lua, como um cavalo vermelho a uma égua azul; nós somos o povo. As mulheres brancas voltaram a levar a lua para o céu, e não querem que ela volte para o sol. Por isso o sol está zangado. E os índios devem dar a lua ao sol."
D. H. Lawrence, Sol, trad. Aníbal Fernandes, Lisboa: Sistema Solar, 2021, p. 104.
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