"Entretenho-me a olhar para eles; foi mesmo isto que me deu a ideia de escrever Paludes; sentir a inutilidade da contemplação, a emoção perante as delicadas coisas pardas. - Nesse dia, Tityre fez-me escrever isto:
- Entre todas as paisagens, atraem-me as grandes planícies - as terras monótonas - e eu longas viagens teria feito para encontrar terras de pântanos; mas tenho-as aqui, à minha volta.
- Não se acredite com isto que eu seja triste; nem sou sequer melancólico; sou Tityre e solitário, e gosto tanto de uma paisagem como de um livro que me não distraia do meu pensamento. Porque é triste, o meu pensamento; é grave, e ao pé dos outros, é mesmo sombrio; gosto mais dele do que qualquer outra coisa, porque dou nele passeios e procuro sobretudo as planícies, os pântanos sem sorrisos, as gândaras. Passeio-o lá suavemente."
André Gide, Paludes (Sotia), trad. Aníbal Fernandes, Lisboa: Sistema Solar, 2021, pp. 41-42.
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