Sunday, March 20, 2022

PRIMAVERA



"A espessura da árvore
é branca

A casa repercute
os favos do silêncio

Ouço a medula da madeira
o pudor do silêncio jovem

O sangue circula sem bandeiras
ri na brancura
do corpo

Um rosto sob a cabeleira
rompe 
no ardor do instante
em relâmpagos de ternura

Todas as hastes livres nascem
do quadrado aberto 
sobre o rio

A palavra é um rosto que deixa ver o branco
do seu tremor

Do branco ao negro o branco
fogo 
de uma árvore que estala em cada mão

O tronco antigo
é a casa nova
nos seus ramos vivos"


António Ramos Rosa, "Pulsações da Terra", in Obra Poética I, Lisboa: Assírio & Alvim, 2018, pp. 674-675. 

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