"Que contemplando o fruto, do que espera
Na doce Primavera colhe flores
De tão diversas cores tão formosas.
Que lírios e que rosas de contino
Semeia amor divino nesta serra,
Onde tanto se encerra e se derrama!
Amor acende, infama, amor tem tudo:
Seta, lança, escudo: dá vida e mata,
Cativa, desbarata, solta e prende.
Amor livra e defende, planta e rega;
Amor freta e navega, amor segura;
Amor cria brandura na dureza;
E converte a tristeza em alegria;
A noite escura em dia fresco e claro.
Amor é meu amparo e meu descanso.
Amor é brando e manso, piedoso,
Suave e saudoso, doce e puro,
Forte, firme e seguro, verdadeiro.
Amor pôs num madeiro meu Senhor,
Trespassado de dor, aberto o lado;
De mãos e pés pregado: ai! e quão tarde
Senti de amor que amor por amor arde!"
Frei Agostinho da Cruz, Poesia Selecta, ed. José Cândido de Oliveira Martins, Vila Nova de Famalicão: Edições Húmus, 2021, pp. 131-132.
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