"Um imenso sol tombava das alturas muito altas, muito límpidas, e Maria ia envolta em sol e o sol entrava-lhe pelos olhos e pela boca e ela sentia que o sol lhe entrava igualmente pelas narinas e pela pele das mãos, dos braços e do pescoço; e Maria, então, que viu o bando de pombas a riscarem no céu de um azul tão belo e tão puro, velozes caminhos, sentiu-se bruscamente alegre e o ceguinho de olhos mortos apagou-se-lhe na memória, onde apenas quedaram os brilhantes olhos do menino que media os passos ao cego (que coisa, parece que o sol me entrou no coração, me encheu de luz!). À sua roda só havia luz, a própria sombra que as árvores e os muros projectavam no caminho era luz, de luz se encontravam do mesmo modo penetradas as coisas que a cercavam, luz é o que ela ia respirando e o que apertava nos dedos, a terra inteira era luz e luz era ela, também (que engraçado, o sol passou prò meu peito, ai, como é bom, como é bom sentir o sol no coração!)"
Afonso Ribeiro, Maria I - Escada de Serviço, 2.ª ed., do autor, 1957, pp. 207-208.
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