Wednesday, August 30, 2023

O CABO DO OCIDENTE

 


"Comparada com essa Tebaida, aquela outra de cesteiros, cegos cantadores de loas, alveitares milagreiros, bentos e santos-justos, jograis e velhos tontos, que grotesca galeria! A alma aqui conhecia a violência da paixão mas não a sublimidade da graça! A terra portuguesa, possuída pelo romano, fecundada pelo godo, cilindrada pelo árabe, tão compósita de cultura e de semental não dava flores místicas doutra redolência. Dava aquilo, e não daria outra coisa pelos séculos a vir. Compreendia-se de resto: estavam no cabo do Ocidente, o Ocidente berço da razão hedionda e do senso prático. Terra avessa ao maravilhoso! Nunca ali tinham nascido deuses. O homem, sim, acabava por importá-los dos outros povos, para os acomodar à sua imagem e semelhança e à gradação dos seus climas moderados."


Aquilino Ribeiro, S. Banaboião, Anacoreta e Mártir, Lisboa: Bertand Editora, 1985, p. 72. 

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