"Um dos maiores génios do século XVII, Hobbes, conhecia perfeitamente as leis naturais, embora, por vezes, fosse excessivamente longe. Montesquieu corrigiu o que havia de excessivo no sistema do filósofo inglês e, nas necessidades particulares de cada sociedade, encontrou a origem de todas as coisas. Tornou-nos, assim, confidentes dos legisladores ao descobrir as molas da sua política. Mas os esforços para iludir as leis da Natureza foram gerais e por isso, ainda hoje, as nossas leis, na sua maioria, são meras reminiscências do feudalismo. O desejo de dominar os povos gerou a aliança entre o sacerdócio e o império. Uma tal aliança poderia ter sido vantajosa para os povos se, por meio de uma religião sensata, a sua função se tivesse limitado a mantê-los obedientes à lei. Mas como o que se desejava era submetê-los a um despotismo arbitrário, recorreram a todas as alvitantes espécies de fanatismo. Viu-se então uma teocracia pregar um Deus feroz em vez de um Deus clemente - e o espírito das trevas turvou a claridade."
Giuseppe Gorani, Portugal - A Corte e o País nos anos de 1765 a 1767, trad. Castelo-Branco Chaves, Lisboa: Círculo de Leitores, 1992, p. 61.
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