Sunday, June 2, 2024
SUMPTUOSO ROSTO
"Queria ver por dentro das artérias
o sabor do teu sumptuoso rosto
que não vejo; ouvir a brancura
aguda d'uns olhos sanguíneos
que me não vêem; provar
a espaços d' um tenebroso corpo,
dúbio de impaciência, ansioso
e incontido, ramo por nós ardido
mas que me alumia em abundância
num movimento de exalação acre.
Insones, seríamos único silêncio,
corpo liso de alfinete e pensar
analógico, texto, de degrau e dedos
vestidos de brasa e medo, como se,
terrífica, a memória se tornasse
mosto que dói de cima para baixo.
Poisada sobre o destino de três
fendas de cratera, cerebrais e ocas,
assim a morte fosse uma janela
e nós uma constelação infinita."
Ana Marques Gastão, Adornos, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2011, p. 77.
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