Monday, June 10, 2024

VIVER

 




"Vivi: que me ficou da vida agora
Que baixo à sepultura? Não remorsos,
Vergonhas não. Para a corrida senda
Sem pejo os olhos de volver me é dado.
E tranquilo direi: vivi; - tranquilo
Direi: morro. Não dormem no jazigo
Os ossos do malvado? Não: contínuo,
Na inquieta campa, estão rangendo
Ao som das maldições, deixa de crimes,
Legado ímpio dos maus. Eu sossegado
Na terra de meus pais hei-de encostar-me..."


Almeida Garrett, Camões, ed. Teresa de Sousa Almeida, Lisboa: Editorial Comunicação, 1986, pp. 190-191.

No comments: