"Com ar triunfante, o senhor von Pasenow olhou à roda: «Pois é, tem de haver outra vez ordem aqui. Ninguém tem o sentido da honra...», depois, mais baixo, para o médico: «Sabe, Helmuth tombou pela honra. Mas não me escreve. Talvez esteja ainda ressentido...», pôs-se a pensar, «ou então este senhor pastor esconde-me as cartas. Quer guardar o seu segredo para si, não quer que lhe espreitemos o jogo. Mas, à primeira desordem no cemitério, vai para o olho da rua, esse homem de Deus. Vai, que eu garanto.» - «Mas, senhor von Pasenow, no cemitério está tudo na melhor das ordens.» - «Na aparência, senhor notário, na aparência, é tudo para nos deitar areia para os olhos, só não é tão fácil de descobrir porque não entendemos a língua deles; estão ostensivamente escondidos. Nós outros só ouvimos o silêncio deles, mas estão constantemente a fazer-nos queixas. Por isso é que todos têm tanto medo e, quando tenho um convidado, sou eu próprio que tenho de o levar à porta, eu, um velho», um olhar hostil perpassou por Joachim, «alguém sem honra não consegue, evidentemente, arranjar coragem para isso, prefere ir esconder-se no estábulo das vacas.»"
Hermann Broch, Os Sonâmbulos, trad. António Sousa Ribeiro, Lisboa: Relógio D'Água, 2018, p. 119.
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