"Não há dias propícios para os fulgores
mortais. Vem-se à terra por uma vereda
acrisolada, com as mãos ininterruptas,
e faz-se a boca diagrama das casas,
sapiência de ver e de sentir, caladamente.
Depois, há só como pensar em tudo em volta
e ver os córregos, as nuvens mansas, a prata
dos telhados, sendo por essa liturgia do silêncio
que há-de ir-se um homem em busca das palavras,
para as sentir e ampliar nos campos e na infância,
enquanto a terra revolve os seus cilícios
de treva e de raízes, a congraçar na cabeça
uma rede de brilhos opacos e translúcidos
em cada pedra."
Amadeu Baptista, Atlas das Circunstâncias, Póvoa de Santa Iria: Lua de Marfim, 2012, p. 7.
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