Friday, July 2, 2021

CONGRAÇAR

 




"Não há dias propícios para os fulgores
mortais. Vem-se à terra por uma vereda
acrisolada, com as mãos ininterruptas, 
e faz-se a boca diagrama das casas, 

sapiência de ver e de sentir, caladamente. 
Depois, há só como pensar em tudo em volta
e ver os córregos, as nuvens mansas, a prata
dos telhados, sendo por essa liturgia do silêncio

que há-de ir-se um homem em busca das palavras, 
para as sentir e ampliar nos campos e na infância, 
enquanto a terra revolve os seus cilícios

de treva e de raízes, a congraçar na cabeça
uma rede de brilhos opacos e translúcidos
em cada pedra."



Amadeu Baptista, Atlas das Circunstâncias, Póvoa de Santa Iria: Lua de Marfim, 2012, p. 7. 

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