"Paulo percorria aquela estrada sem história, naquela identificação completa entre luz do sol e consciência de estar a viver.
Mas como tudo estava limpo, puro, incontaminado! Naquele vazio vital e ardente não eram sequer concebíveis as obscuridades, as tortuosidades, as confissões, os contágios, o fedor da vida. Precisamente porque ali não havia variedade, mas apenas unicidade: o azul profundo do céu, a obscuridade da areia, o contorno do horizonte, as inúmeras elevações e depressões do terreno, não eram formas que se opunham umas às outras, excluindo-se reciprocamente, ou prevalecendo reciprocamente, ora uma, ora outra: não, eram uma forma única, e como tal, sempre omnipresente também."
Pier Paolo Pasolini, Teorema, trad. Ana Tanque, Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2005, p. 69.
No comments:
Post a Comment