Tuesday, July 27, 2021

ESCURECER

 



"Começava a escurecer; nas clareiras de neblina apareciam as estrelas. O Escorpião subia acima do horizonte acidentado. E Antares, o sol vermelho, também lá estava quase a sumir-se. A sudeste via-se o Covil do Grande Cão. Uma após outra, a marcarem posições, as estrelas eram como chagas abertas no seu próprio ser, desdobramentos múltiplos daquela angústia, daquele olho sem pálpebras. Quem sabe se as constelações seriam monstruosidades de um divino delírio? Um desastre que parecia atingir o universo inteiro. Como se estivesse a viver a preexistência de uma impensável catástrofe, apoiou-se um momento no rebordo da janela e sentiu a terra condenada, também, entontecida pelo ritmo espasmódico de um voo, rumo à Borboleta de Hércules."


Malcolm Lowry, Lunar Caustic, trad. Aníbal Fernandes, Lisboa: Assírio & Alvim, 1985, p. 33. 

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