"A chuva mergulhava suavemente no rio, gotejava baixinho nas folhas dos salgueiros. Havia uma canoa semi-afundada na água junto à margem; sob um pequeno pontão de madeira, desaguava um fio de água, precipitando-se mais rápido nas águas tranquilas do rio, e Joachim sentiu-se também arrastado para longe, como se a ânsia que o possuía fosse um fluir macio e amenos do seu coração, um curso de água a respirar, temendo dissolver-se no sopro de uma boca amada e desaparecer como num lago de silêncio incomensurável. Era como se o Verão estivesse a derreter-se, com a água a embrandecer, a gotejar das folhas, gotas de orvalho a pender das ervas."
Hermann Broch, Os Sonâmbulos, trad. António Sousa Ribeiro, Lisboa: Relógio D'Água, 2018, p. 46.
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