"Sensações, disse-lhe o seu amigo, não mais um desconhecido. Sentimentos. O que tu queres é um sinal, um sinal de verdade, digno de um profeta. Se és um profeta, seria justo que se tratassem como tal. Quando Jonas fugiu às suas responsabilidades, foi lançado para um ventre de trevas durante três dias e depois vomitado no destino da sua missão. Isso foi um sinal; não foi nenhuma sensação.
Preciso de queimar todo o meu tempo a endireitar-te as ideias. Olha bem para ti, disse-lhe ele - a frequentar aquele bordel de Deus, para lá sentado feito macaco a deixar aquela pirralha encher-te os ouvidos. O que esperavas encontrar ali? O que esperavas ouvir? Deus fala aos profetas pessoalmente e nunca te falou a ti, nunca mexeu uma palha, nunca esboçou um gesto. E quanto àquela estranheza que sentes nas entranhas, ela vem de ti, e não de Deus. Quando eras menino tiveste lombrigas. Não é de todo improvável que as tenhas outra vez."
Flannery O’Connor, O Céu É dos Violentos, trad. Luís Coimbra, Lisboa: Relógio D’Água, 2014, p. 130.
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