"Alimento um do outro, conversa
que é preciso ter, passear, viajar,
pensar em viajar, por vezes discutir.
Até chegar o momento da mútua
alegria, do mútuo consentimento.
Quando nos dávamos mal, ali,
naquele sítio, dávamo-nos bem.
E era um sono verdadeiro esse
que dormíamos, metidos dentro
de um problema com solução.
Se a vida é este meu nulo afirmativo,
condutor de palavras, umas
mais ditas do que outras por toda
a gente, então nada há, mesmo
nada, e eu sou um cantor de vazio.
Cantando o vazio e sem acreditar
em pássaros jubilantes trazendo melodias
de beleza, à minha voltam estoiram
vozes e crentes na sua convicção
de literatura. Para quem falam os grandes
génios? Para outros grandes génios?
Olhando de lado para os livros
empilhados, marcados, anotados,
sublinhados, tenho a certeza que já vi
esta imagem em qualquer lado."
Helder Moura Pereira, Mútuo Consentimento, Lisboa: Assírio & Alvim, 2005, pp. 53-54.
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