"Olhou em redor, como se visse o mundo pela primeira vez. O mundo era belo, o mundo era colorido, o mundo era estranho e misterioso! Isto era azul, isto era amarelo, isto era verde, corria o céu e o rio, a floresta e a montanha erguiam-se, tudo belo, tudo enigmático e mágico, e no seu meio ele, Siddhartha, o Despertado, a caminho de si mesmo. Tudo isto, todo este amarelo e azul, rio e floresta, entrava pela primeira vez nos olhos de Siddhartha, já não era a magia de Mara, já não era o véu de Maja, já não era a multiplicidade absurda e acidental do mundo das aparências, desprezível aos olhos dos profundos pensadores brâmanes, que rejeitam a multiplicidade e procuram a unidade. O azul era azul, o rio era rio, e quando o uno e divino em Siddhartha viviam ocultos no azul e no rio, essa era justamente a forma e o espírito divino de ser aqui amarelo, aqui azul, além céu, além floresta, e aqui Siddhartha. O espírito e o ser não estavam algures por detrás das coisas, estavam nelas, em todas elas."
Hermann Hesse, Siddhartha - um poema indiano, 13ª ed. trad. Pedro Miguel Dias, Cruz Quebrada: Casa das Letras, 2006, p. 47.
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