"Lua coloca a bacia no estrado, deita-se, enrola os braços ao pescoço da companheira, aninha-se e, em poucos segundos, está a dormir. Zé deriva à flor do sono durante muito tempo, mas acaba por mergulhar. Quando emerge, salta do leito e corre para o exterior. Abre a porta. Os beirais estão franjados de eslactites de caramelo que, de vez em quando, sob o efeito do vento e do peso, se desprendem com um retinir de lustres, e a paisagem é duma brancura estonteante, tudo branco e plano, excepto as rugas das paredes. As serras avolumam-se polidas e, nas encostas, sobressai a mancha escura dos carvalhos, só eles, pois as urzeiras e arbustos de menor porte estão completamente submersos. Gostofrio jaz no vale, bichos e homens retidos na toca pela neve. Belo e frio. Zé fecha a porta e vai para a cozinha."
Bento da Cruz, Filhas de Loth, Círculo de Leitores, 1993, p. 38.