“ –E porque não agora e sempre? – perguntou ela num murmúrio?
- Porque aqui nada é estável – replicou Serafito desdenhosamente. – As felicidades transitórias dos amores terrestres são clarões que valem para algumas almas como a aurora das felicidades mais duradouras, da mesma maneira que o descobrimento de uma lei da natura logo faz supor, a alguns entes privilegiados, o sistema inteiro. A nossa frágil felicidade, deste mundo, não será o atestado da outra felicidade mais completa, tal como na terra, fragmento do mundo, atesta o mundo? Não podemos medir a órbita imensa do pensamento divino, do qual não somos mais do que uma parcela tão pequena quanto Deus é grande, mas podemos pressentir a extensão d’Ele, ajoelhar, adorar, esperar. Os homens enganam-se sempre nas suas ciências, porque não vêem que tudo, na sua esfera, é relativo e está condenado a uma revolução geral, a uma produção constante que necessariamente é arrastada para um progresso e para um fim. O próprio homem é uma criação finita, sem a qual Deus não seria.”
Honoré de Balzac, Serafita, trad. Álvaro Ribeiro, Lisboa: Ésquilo, 2006, pp. 31-32.
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