"Porém, o ser humano, o ser humano que foi outrora imagem de Deus, espelho do valor universal de que era portador, já não o é; mesmo que ainda possua um pressentimento de segurança de outrora, mesmo que pergunte a si próprio que lógica superior lhe trocou as voltas ao sentido, o ser humano, expulso para o horror do infinito, por muito que se arrepie, por muito que esteja cheio de romantismos e de sentimentalismo e sinta saudades da protecção da fé, ficará sem saber o que fazer, preso no mecanismo dos valores tornados independentes, e nada mais lhe resta do que submeter-se ao valor específico que se tornou a sua profissão, nada mais lhe resta do que tornar-se função desse valor - um membro de uma profissão, devorado pela logicidade radical do valor em cujas garras ficou preso."
Hermann Broch, Os Sonâmbulos, trad. António Sousa Ribeiro, Lisboa: Relógio D'Água, 2018, p. 411.
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