Friday, August 20, 2021

VIZINHOS

 



"Não havia mais civilização cristã, nem outra qualquer. O seu terror e a sua fragrância inefável não passavam de justificações. Durba lembrava-se de tia Filomena, que morrera cega, sempre de bom humor e ensinando piano; e da maneira de ela falar de Deus, como do vizinho do lado, com franca familiaridade e respeito pelo seu cargo. 
- Não é fácil para Ele; não é nada fácil - dizia, sempre atarefada com as suas lições, servida por uma criada fiel e ríspida que ultimamente lhe servia de guia. João Pinheiro nunca deixara de socorrer tia Filomena, que era pobre mas parecia independente das suas desgraças; como se elas acontecessem a outra pessoa e ela fosse apenas espectadora e não vítima."


Agustina Bessa-Luís, Prazer e Glória, 2.ª ed., Lisboa: Relógio D’Água, 2019, p. 109. 

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