"Tu equilibras, assim escreveu
a sem-peso, que
ajudou quando
me despiram, me
roubaram
o que vivi, - tu equilibras, escreveu
a que
vivenciou, que recebeu na mão
a armadilha,
que a adorna, tu
equilibras
a balança.
Eu não a equilibro. Quando de futuro
sob as ruínas
chegar à balança, isso
já será muito.
Não fales de balanças, fala
de ti própria: depois sobe
o fumo os seus caminhos para cima. Nunca
foi
o teu fumo, estás a ouvir. Nunca
foi
o teu fumo, estás a ouvir. Cala-te,
enche os pulmões de ar, deixa-me
os mortos."
Paul Celan, "Poemas do Espólio", in Os Poemas, trad. Maria Teresa Dias Furtado, Lisboa: Assírio & Alvim, 2022, p. 863.
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