Friday, February 24, 2023

EQUILÍBRIO

 



"Tu equilibras, assim escreveu
a sem-peso, que
ajudou quando 
me despiram, me 
roubaram
o que vivi, - tu equilibras, escreveu
a que
vivenciou, que recebeu na mão
a armadilha, 
que a adorna, tu
equilibras
a balança.

Eu não a equilibro. Quando de futuro
sob as ruínas
chegar à balança, isso
já será muito.

Não fales de balanças, fala
de ti própria: depois sobe 
o fumo os seus caminhos para cima. Nunca
foi
o teu fumo, estás a ouvir. Nunca
foi 
o teu fumo, estás a ouvir. Cala-te, 
enche os pulmões de ar, deixa-me 
os mortos."


Paul Celan, "Poemas do Espólio", in Os Poemas, trad. Maria Teresa Dias Furtado, Lisboa: Assírio & Alvim, 2022, p. 863. 

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